7 de junho de 2017

Ando Desassossegada




Ando há uns dois meses a ler o Livro do Desassossego e tem sido um mix de devoro-dezenas-de-páginas com passo-semanas-sem-ler. Sempre que leio o livro, adoro; mas depois dá-me preguiça de continuar, o que é uma tristeza, lamento... Pelo que pude perceber há várias interpretações deste Livro, trata-se de um conjunto imenso de pequenos textos de Fernando Pessoa sob o heterónimo de Bernardo Soares e que estão na sua maioria catalogados pelo autor como fazendo parte de um Livro do Desassossego que nunca chegou a ser publicado em vida de Fernando Pessoa. Após décadas de estudos, interpretações e possíveis organizações começaram então a ser publicadas edições e versões  do livro e uma dessas edições eu acabei por comprar (Editora Assírio & Alvim, compilação de Richard Zenith), com prefácio explicativo e inúmeras notas. Embora o livro seja um conjunto de textos soltos, há um certo fio condutor, alguns temas recorrentes, no entanto para mim fica cada vez mais claro que sou mesmo adepta da ficção com narrativa, cativa-me mais a intriga e a conclusão do que textos abertos ou autobiográficos. Mas voltemos ao livro!
O sentimento constante de inquietação, de descontextualização, de falta de pertença, de desassossego são então os vetores do livro. Bernardo Soares é o heterónimo mais próximo de Fernando Pessoa, é até chamado de semi-heterónimo ou quase um pseudónimo. O livro tem textos maravilhosos, alguns deles também fazem referência à vida inocente e desprendida das crianças e das saudades que o autor tem desses tempos. Outra das temáticas abordadas é a da insatisfação profissional, um tema bastante atual por assim dizer, mas que se calhar há uns 100 anos não seria certamente tão discutido nem tão pouco considerado opcional - largar tudo e começar do zero? jamais!
A rotina daquele empregado de escritório, que todos os dias sai do quarto alugado, vai trabalhar, encara as mesmas pessoas e que invariavelmente executa as mesmas tarefas é algo que seca o autor, que o destrói e que apenas a escrita o liberta daquele marasmo. (Neste aspeto a "vida" de Bernardo Soares coincide com a de Fernando Pessoa)
Ainda não terminei o livro e julgo que não o farei tão cedo porque gosto imenso de o ler com intervalos para o interiorizar melhor. Creio que em vez de uma leitura seguida este livro também se presta bem a ser lido aleatoriamente com páginas abertas ao calhas. Um livro perfeito para estar à cabeceira da cama, para ler todos os dias um pouco porque todos temos um Bernardo Soares dentro de nós. Um livro que não deve faltar na estante de todos os portugueses!!

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